domingo, 23 de novembro de 2008

Jardim de infância...





"A infância é o chão sobre o qual caminharemos o resto
de nossos dias.
Se for esburacado demais vamos tropeçar mais, cair com
mais facilidade e quebrar a cara - o que pode até ser saudável, pois nos
dará chance de reconstruirmos nosso rosto.
Quem sabe um rosto mais autêntico.
Mas às vezes ficaremos paralisados.
Em plena maturidade sinto em mim a menina assombrada com a beleza da chuva que chega sobre as árvores num jardim de muitas décadas atrás.
Tudo aquilo é para sempre meu, ainda que as pessoas amadas partam, que a casa seja vendida, que eu já não seja aquela.
Para isso precisei abrir em mim um espaço onde abrigar as coisas positivas, e desejei que fosse maior do que o local onde inevitavelmente eu armazenaria as ruins. Os contornos desse eu que me propuseram precisaram ser ampliados segundo o meu jeito, para que, dentro de todas as minhas limitações, eu pudesse me abrir e acolher vida em constante transformação.
Boa parte do tempo andamos meio às cegas, avançando por erro e tentativa, tateando entre os desafios de cada dia.
Sobre essa terra firme ou areia traiçoeira teremos de erguer a nossa casa pessoal feita em parte desses materiais brutos. Nem tudo pode ser programado.
Os cálculos têm resultados imprevistos. Misturamos em nós possibilidade de sonhar e necessidade de rastejar, medo e fervor".

Lya Luft



sobre a tela:

Título: As tulipas azuis
óleo sobre tela texturizada, 2007
0.40m x 0.60m
adquirida por anônimo na Feira de Arte Aquárius em SJCampos - SP